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quinta-feira, 26 de abril de 2018

Maio de 68, o sonho, a libertação, a luta e alguns mitos, por António Abreu

O Maio de 68, todos os acontecimentos desse ano em todo o mundo, Ninguém ficou indiferente ao Maio de 68. Gostasse ou não dele.
Passar do sonho e da utopia à realidade deu força a outros movimentos, mesmo os da intimidade, dos costumes, da igualdade de sexos e da "revolução sexual", que não ficando acabados, contribuíram para novos comportamentos, ideias, carácter do ensino e dos professores, confiança na força da contestação do que parecia imutável e da sua capacidade de transformar 
Mas os media dominantes criaram mitos, uma interpretação própria das causas e consequências, valorizaram aspectos marginais, desprezando o essencial do que se passou.
Estas são apenas algumas notas pessoais, sobre mitos criados a propósito de acontecimentos que também vivi.
 
 Primeiro mito: o movimento de estudantes em Paris foi ímpar. De cfacto até nem foi o mais importante nesse ano. Nos EUA, México, noutros países da América Latina ou em Portugal, em quase todo o mundo houve maios noutros meses, por vezes com mais dramatismo que em Paris.

Plenário na Renault
 
Segundo mito: os comunistas e a CGT opuseram-se aos estudantes. Não é verdade pois houve frequentes reuniões entre organizações e plenários dos trabalhadores em toda a França convocados pela CGT - e também pela CFDT - em que participaram delegações estudantis que deram a conhecer os objectivos dos estudantes enquanto os trabalhadores apresentavam os seus. O movimento estudantil adquiriu projecção maior com a confluência com a luta dos trabalhadores que, no dia 13 de Maio, realizaram uma greve geral em que participaram 2/3 dos assalariados (dez milhões), depois de uma enorme manifestação contra a repressão dia 10 que contou com uma larga unidade e centenas de milhares de pessoas.
 


Maio de 68, o sonho, a libertação, a luta e alguns mitos.

Terceiro mito: Cohen Bendit e as barricadas e incêndio de carros e mobiliário urbano são o símbolo 
do Maio de 68. O estudante da Sorbonne foi um anarquista destacado, com comportamentos provocatórios.As imagens que o captaram e às destruições foram trabalhadas e divulgadas universalmente, com os objectivos de provocar o isolamento dos estudantes, travar o movimento social de intensa contestação de De Gaulle e do regime, provocar o medo que gerasse uma onda forte de reacção como veio a acontecer.
 

10 Maio - Na grande manif Georges Séguy, Georges Marchais, Michel Rocard 
Um quarto mito e por ele me fico: os comunistas e a CGTP só estavam interessados na satisfação de algumas reivindicações e não na revolução. A discussão da insurreição e dessa possibilidade deu-se. De Gaulle preparou uma acção anti-insurreccional de grande envergadura se ela ocorresse. Pirou-se para a Alemanha e depois a direita, sectores significativos da burgesia, alertada pelo anticomunismo e a destruição do país que estes estariam a preparar, tocou a rebate e também saiu à rua em termos esmagadores. De Gaulle respondeu ao apelo, regressou e marcou eleições parlamentares que a direita ganhou para numa segunda eleição, depois desta, ter uma vitória esmagadora. Mas entretanto os trabalhadores já tinham, com os acordos de Grenelle, assinados pelas confederações patronais, o patronato e o governo em 22 de Maio, obtido conquistas assinaláveis muito superiores às obtidas com o governo da frente popular de 1936/37. Eles pediram o impossível e ganharam. Muitos "revolucionários" voltaram para os sofás, considerando que o Maio de 68 se tinha saldado numa derrota...

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