demissão de Robert Mugabe, tem na origem a demissão do anterior vice-presidente,
Emmerson Mnangagwa, de 75 anos, e durante muito tempo o
braço-direito de Mugabe,
depois de um despique travado nos corredores e no seio do
partido no poder, a ZANU-PF,
entre ele e a mulher do presidente, Graça Mugabe, de 52anos,
também vice-presidente, e na
ordem por esta dada de serem demitidas chefias militares e
policiais que simpatizassem com
Mnangagwa.
Mas é evidente que tem por detrás outros factores,
alguns dos quais só serão
perceptíveis dentro de algum tempo.
Por exemplo, a China apoiou a ZANU na sua luta pela
independência e passou a ser sua
importante parceira comercial. A pressão ocidental sobre
Mugabe, dos últimos anos,
aproveitou a degenerescência do regime e o afastamento das
preocupações com a população,
para confrontar as relações económicas com a República
Popular da China e a disputa entre
os Estados Unidos e a China quanto à exploração dos recursos
minerais do subsolo do país.
Dias antes do movimento militar,
o chefe militar que liderou a revolta visitou a China. Depois a China comentou
esta visita a Pequim, afirmando que se tinha dado no quadro de um intercâmbio
militar normal, mutuamente acordado entre a China o Zimbabwe, que, como país
amigo, estava a prestar muita atenção aos desenvolvimentos da situação no país.
A China tem um forte interesse no
Zimbabwe, um país rico em recursos minerais, mas que sofre há décadas de um
desenvolvimento económico lento, que para muitos observadores seriam da
responsabilidade das políticas de Robert Mugabe. Ao longo dos últimos dois
anos, a China trouxe cerca de 30 milhões de dólares por mês ao Zimbabwe, de
acordo com Xing Shanshan, vice-secretário-geral da Federação Chinesa do
Zimbabwe.
A China é a maior fonte de
investimento directo estrangeiro no empobrecido país africano. O dinheiro foi
aplicado no crescimento da produção de tabaco, na construção de painéis solares
e noutros projetos. A China também é o maior parceiro comercial do Zimbabwe. A
China perdoou ao Zimbabwe uma dívida no valor de 40 milhões de dólares no
quadro de um maior estímulo à economia africana.
Desde Janeiro, o yuan chinês tornou-se uma moeda oficial
no Zimbabwe, em pé de igualdade com o dolar
dos EUA, o rand sul-africano e o pula do Botswana. A moeda do país é
muitíssimo instável, apresentando uma hiperinflação recorde.
A reacção russa foi a de
considerar que foi da responsabilidade de Mugabe ter deixado alargar-se a
insatisfação na população, que o desenvolvimento é a forma de conter
instabilidades, que os projectos conjuntos já subscritos por ambos os países
serão para prosseguir, desejando que eles sejam a base para garantir o
desenvolvimento sustentável de mais laços nos planos comercial e económico,
industrial e de investimento.
O grupo russo ALROSA, de
companhias mineiras de diamantes, está já envolvido em diversos projectos no
país.
Depois de em 2012 a ZANU-PF ter
feito um governo de coligação com o principal partido da oposição, o MDC, de
Morgan Tsvangirai, ficando este como Primeiro-Ministro, criaram-se condições
para uma melhoria da conjuntura, mas muitos zimbabweanos permaneceram pobres e
com 72% a viver abaixo do limiar da pobreza.
Para melhorar esta situação, em
2013, o ZANU-PF e o Presidente Mugabe lançaram um programa de “indigenização”,
que previa a apropriação por zimbabweanos de filiais de empresas multinacionais
no país. O Governo defendia tratar-se da
única via para que mais cidadãos beneficiassem das riquezas nacionais como o
ouro, diamantes e tabaco. As grandes multinacionais olharam a medida com
desconfiança, até porque “nunca se tinha estabelecido como esses nacionais
iriam pagar os 51% das participações”, referiu na altura, por exemplo, Nginya
Mungai Lenneiye, responsável do Banco Mundial para o Zimbabué, reflectindo os interesses
dessas multinacionais…
Final séc. XIX – Início da
colonização britânica para exploração de minerais e cultivo da terra de
boa qualidade
1910 – Criação da Rodésia do Sul
1953 – O Reino Unido, temeroso de
uma maioria negra, criou a Federação da
Rodésia e Niassalândia
1964 – Inglaterra concedeu
independência à Rodésia do Norte (hoje Zâmbia)
1965 – Ian Smith declara
independência da Rodésia do Sul (depois Rodésia).
Em 1970 os brancos proclamam a
república, que acabou não
reconhecida nem pelo Reino Unido
nem pela ONU
1970 – Luta de libertação e
início de um conflito sangrento, com forte
componente racista que durou mais
de 10 anos opondo os racistas brancos liderados
por Ian Smith e a ZAPU, de Joshua
Nkomo e a ZANU de Robert Mugabe ZANU tiveram
o apoio dos governos da Zâmbia
e Moçambique.
1964-1974 – Prisão de Mugabe,
seguida de exílio em Moçambique.
1979 – Trégua (Acordo de
Lancaster House)
1980 – A independência foi
reconhecida como Zimbabwe depois de um governo de transição
participado pela maioria negra.
Fuga dos brancos excepto os proprietários agrícolas.
Década de 80 - Conflito entre os
dois movimentos de libertação ZANU e ZAPU.
Até 1981 – Governador britânico
interino prepara primeiras eleições livres
1981 - Eleições ganhas pela ZANU
e por Mugabe
1981-1990 – Grandes progressos na
educação, saúde, habitação e acção social.
1981 – 1994 – Agressões da África
do Sul, com capacidade de desestabilização económica (era
A principal parceira
comercial de todos os países vizinhos).
1986 – Os lugares ocupados por
brancos na assembleia eleita foram eliminados
1987 – Fusão da ZANU com o
partido rival a ZAPU, de N’Khomo, ficando ZANU-PF. Este partido
foi formado para participar nas primeiras
eleições daquele país recém-independente,
pela junção da ZANU, uma das organizações
que lutaram pela independência e de que
Mugabe tinha sido um
dos fundadores, com a Frente Patriótica.
Alteração
constitucional que passa o regime a presidencial (presidente dirige o governo
que nomeia após a sua eleição, com duas
Câmaras, com o acontece, por exemplo, em
França.
1990 – Reeleição da ZANU e Mugabe
1991 – Início da Reforma Agrária
(No final da década de 1990, os brancos
representavam menos de 1% da
população, mas detinham 70% de
terra arável).
1996 – Reeleição da ZANU e Mugabe
1999 - Início de uma grave crise económica.
Dificuldades na Reforma Agrária
por excesso de restrições à
distribuição de terras e por promessas não
cumpridas pelos EUA,
Reino Unido de financiarem as
aquisições das terras, tal como fora previsto nos Acordos
de Lancastar House. Queda a pique
da importante produção agrícola de qualidade.
1999-2008 – Recessão em que a
economia contraiu 50%, refém de um
baixo crescimento
devido à seca e, depois, à crise internacional.
2000 – Governo laçou uma rápida
aquisição de 3 mil fazendas (5
milhões de hectares) para aí
colocar 110 mil famílias em 6
meses,
2008 - Tsvangirai vence a 1ª volta das presidenciais
e Mugabe a 2ª volta, mas
com acusações sérias entre as
duas de matança de apoiantes do primeiro
2012 – Deslocação de 10 mil
militares para Moçambique para apoio
ao combate de Moçambique contra a
RENAMO.
Governo de coligação com o MDC, de Morgan
Tsvangirai
2013 – Programa de
“indigenização” nas filiais das multinacionais.
2016 – Declaração do estado de
catástrofe em grande parte das zonas
rurais atingidas pela seca
severa.
2017 – Afastamento de Mugabe por
movimento militar, acompanhado de
forte apoio popular e da própria ZANU-PF, após
tenaz resistência do
próprio a dificultar o arranque de uma nova
fase no país.
Indigitação como presidente o anterior
vice-presidente, que Mugabe afastara,
até à próxima eleição presidência
em 2018.
Robert Mugabe
O papel histórico de Mugabe na
luta pela libertação, na construção do país, na resistência ao neocolonialismo,
na solidariedade internacionalista para com Moçambique e na resistência à
influência intervencionista do regime de apartheid sul-africano contra os novos países
vizinhos.
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