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sábado, 24 de junho de 2023

A Rússia, a guerra e a traição anunciada

1.Desde a noite passada que a notícia da sublevação do grupo Wagner, a tomada de Rostov e a progressão para Moscovo, estão a provocar muitos receios em todo o mundo.

É certo que alguns se regozijaram, como Zelenski e Kuleba que vaticinaram novas vantagens para a sua causa. E que outros observam com atenção o desenrolar dos acontecimentos mas na perspectiva de uma acção "cordenada" dos EUA e UE, apesar de Macron e Van der Leyen terem antes dito que a questão é um "assunto interno da Rússia".

De repente o risco de uma guerra civil e a possibilidade de mais mortes e sacrifícios, que a guerra na Ucrânia já está a provocar, pairam sobre a Rússia.

Aparentemente Moscovo teñta evitar confrontos com o grupo sublevado mas numa atitude que é intencional. Mas a sua progressão faz aumentar a tensão. Certamente decorrem negociações que evitem um banho de sangue na Rússia. A Rússia - e só ela - deve resolver a questão com os seus próprios meios.  Há primeiros passos já tomados que parecem promissores.



2.A anterior visita de Anthony Perkins a Pequim alguns resultados poderá ter.

As acções de Pequim, várias das quais com sólidos apoios institucionais, onde a cooperação económica, e não só, se desenvolvem com base do princípio de ambas as partes ganharem com os acordos que estabelecem.

Mas não podemos esquecer que as dinâmicas de paz e cooperação de ambos os governos são bem distintas. As palavras insultuosas de Biden contra Xi Jinping parecem ser mais um grito da própria incapacidade dos States e aliados em reverterem o curso da História

De novo os países “ocidentais” são alvo de mais uma imposição: a de não permitir que empresas chinesas tenham acesso ao 5G.

Os Estados Unidos estão a romper com regras do próprio mercado que desenvolveram, aumentando o protecionismo de empresas norte-americanas, rejeitando a concorrência, realizando comércio condicionado por imposições políticas aos países que cooperam com outros que os EUA consideram ser inimigos ou perigosos adversários. A prática de sanções contra estes países atingiu uma paranoia total.

A China é considerada pela generalidade dos países da Ásia, África e América Latina como um país em que podem ter confiança.

Os EUA, por razões passadas e presentes, não colheram muito com os périplos de Perkins em vários desses países, e os contactos realizados são encarados com diferentes graus de desconfiança e receios.

A China viu a trajectória acompanha há muito a deriva dos EUA para um mundo unipolar que aceitasse o domínio dos EUA. E os chineses tornaram-se campeões do multilateralismo, que é acompanhado pela construção de associações regionais para a paz e cooperação com muitos países da América Latina, de África, Médio e Próximo Oriente, do mundo árabe. A Eurásia volta a concretizar-se.

Os EUA institucionalizam um maior controlo dos organismos internacionais já existentes, como na ONU e suas agências, a União Europeia, que hoje dificilmente se distingue do que os EUA querem. Para não falar também da NATO, onde Stoltenberg segue as instruções de vassalagem para com a Casa Branca.

Antony Perkins e Ursula Van der Leyen estão a realizar périplos em várias regiões, oferecendo os “valores” deles e mais quase nada, para reduzir a influência da China e da Rússia.

 

3.A guerra na Ucrânia e o objectivo de destruir a Rússia

A invasão da Ucrânia pela Rússia foi justificada por boas e sérias razões dos habitantes de várias regiões que foram oprimidos, perseguidos e mortos pelos nazis que tomaram o poder em Kiev, e os riscos militares crescentes que estavam a pôr a Rússia em prontidão militar para se defender.  Depois da rasteira que os EUA, François Hollande e Angela Merkel, pregaram à Rússia e às repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, ao boicotarem, em benefício de Kiev, os acordos de Minsk de 2015, o envio massivo de todos os meios e instrumentos de guerra para os nazis acelerou.

Os EUA e alguns países da UE tinham apoiado antes na Ucrânia o golpe perpetrado por organizações nazis em 2014, que interrompeu um regime fundado em eleições com vitórias alternadas de candidaturas que se reclamavam de maior proximidade à NATO ou à Rússia.

Desta nova forma os EUA deram continuidade ao objectivo de destruir a Rússia, que nas últimas décadas foi prosseguido com outras fases e sucessos parciais.

O papel de procuração desta guerra do governo norte-americano contra a Rússia, recaiu no regime de Kiev, que pôs em causa a segurança do país e da sua população.

A história é conhecida bem como a inaceitável intervenção da Federação Russa na Ucrânia e as consequências que esta teve a todos os níveis, e que favoreceram numa fase inicial os inimigos da Federação Russa. A intervenção russa foi uma violação do direito internacional, um acto guerreiro que desenvolveu as intenções de guerra dos seus adversários. A violação do direito universal à integridade de cada país foi posta em causa.

Hoje este conflito e a confrontação do “ocidente” com a China condicionam tudo à escala planetária.

Mas os EUA estão a perder o antigo domínio mundial e confrontam-se agora com muitos países do mundo a construir geoestratégias bem distintas. Uma grande reconstrução das relações internacionais nos planos político e económico, com uma dinâmica cobertura de infraestruturas básicas em países em desenvolvimento está em curso, com preocupações pacificadoras e de reconciliação entre países, de proveito mútuo nas novas relações (ganha-ganha), com a ruptura com o dólar como meio de pagamento em benefício de moedas nacionais.

Antony Perkins e Ursula Van der Leyen realizaram périplos rápidos em quase todo o mundo e ofereceram os valores “deles” e mais quase nada para demover a influência da China e da Rússia.

As grandes alterações geoestratégicas em curso são irreversíveis, mas os que estão a deixar de perder a influência que tiveram no passado estão a resistir e ainda têm, margem de manobra e uma máquina de mentira a seu favor. Acontecimentos como o rebentamento da barragem de Kherson que alagou principalmente as zonas controladas pelos russos, os atentados bombistas para matar e meter medo, ou mais a grande mentira de Zelenski “revelando” os ataques iminentes da Rússia contra a central nuclear de Zaporígia…

 

4. A muito anunciada contraofensiva da Ucrânia contra a Rússia está a patinar, segundo o Le Monde, e não conseguiu penetrar as suas linhas de defesa em torno das províncias que foram integradas na Rússia com o apoio das respectivas populações, a saber Donetsk, Luhansk, Zaporígia e Kherson. Os mares Negro e de Azov continuam russos.

O valor atribuído à “reconquista” de pequenas aldeias, fora das linhas russas, já quase destruídas e desabitadas, contrasta com o tom inicial do gauleiter de opereta de Kiev.

Mas o excesso de confiança e a desconsideração pelas forças russas, a partir do segundo semestre do ano passado, foram fatais para Kiev.

A forma como falavam dos soldados russos e os recursos militares da Rússia, desde o final do ano passado não pode ser esquecida. Para Kiev e toda a mídia mainstream ocidental, incluindo a nossa seriam jovens com deficiente preparação para uma guerra a serem mortos como “carne para canhão” e estando os generais sentados no Kremlin, quando muitos generais de alto escalão morreram ao lado dos seus homens a combater. Fugiriam desorientados com as supostas derrotas, etc, etc, etc. A Rússia estaria exaurida de recursos, muitos dos quais da era soviética da segunda guerra, estavam ultrapassados face às muitas sofisticadas armas ocidentais, mas com capacidade de produção militar muito limitada. Leopards, Abrahams, HIMARs, e outras armas de vanguarda foram confrontadas com armas russas muito mais eficazes.

A Rússia apresenta-se hoje com uma poderosa indústria metalomecânica sempre a trabalhar para mais e melhores armas. E mostrou-se capaz de obter drones, artilharia, mísseis hipersónicos, F-400, de fazer uma guerra electrónica com meios muito eficazes e sofisticados, que combateram com êxito os recursos ocidentais equivalentes.

Oficiais generais, não apenas os portugueses, que revelam a coragem de não se deixarem ficar manietados pelo rótulo de putinistas, mas também de outros países, têm revelado estes factos, incluindo a estimativa de que em matéria de mortos os ucranianos poderão estar a ter 5 a 6 vezes mais mortos que os russos.

Para negociações futuras, os ucranianos continuam a falar na recuperação da anterior integridade do país e exigem que as contas bancárias de russos na Europa sejam aplicadas na reconstrução. Os russos têm a força da realidade actual das novas repúblicas que aderiram à Rússia, não abrem mão das muitas dezenas de milhares de mortos que as defenderem e contruíram linhas de defesa nesses territórios que o governo de Kiev não conseguiu beliscar e defendem zonas tampão adjacentes a elas com a garantia dos seus cidadãos não serem atingidos por fogo adversário.

5. Vencer as mentiras e os bloqueios mentais à nossa inteligência é uma luta que tem que ser conduzida no seio de todos.

Há já alguns sucessos nessa resistência ao rolo compressor e na cidadania que vai tomando voz. Que eles sejam exemplos a reproduzir.

Nós somos seres inteligentes com uma cultura democrática que os patrões da CNN, e dos grupos de canais de rádio e TV, dos donos da multimédia, desprezam.

Mas vamos vencer.


1 comentário:

  1. Nunca como agora senti que o facto de não ser estúpida de todo me colocava em situação de risco. Nem no tempo do estado novo.
    Mas vamos vencer.

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