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sábado, 26 de agosto de 2023

Lêr os BRICS

Quer antes, quer depois de aprovada há dois dias, a Declaração da XV Cimeira dos BRICS, realizada em Johannesburg, foram criadas expectativas positivas por parte de muita gente no mundo.


A azul escuro os primeiros BRICS, a azul claro os que se lhe juntaram agora

Também foi motivo de intervenção de dirigentes ocidentais, de forma nervosa. Macron queria ser convidado para a cimeira e não foi. Imagine-se que todos os ex-colonizadores recentes de África o tivessem reclamado também, isto é Portugal, Alemanha, Bélgica, Itália ou a Grã Bretanha (na altura da 1ª Guerra Mundial, 90% dos territórios africanos estavam colonizados por estes países europeus).

Por seu lado os EUA agigantaram-se junto da Índia, dando a entender que  no futuro os dois estados seriam "donos disto tudo".

Os escribas e comentadores dos EUA e Europa desdobram-se em apoucar a importância dos novos países dos BRICS, esquecendo-se de que eles hoje representam 33,7% do PIB mundial ultrapassando os 27,0% para que caiu o dos G7...

Por cá os comentadores anti-BRICS situaram-se na área política do governo.

Também essa malta que nos quer formatar as cabeças ignora que o investimento chinês que o Banco de Desenvolvimento dos BRICS, presidido por Dilma Rouseff, não esgotará na capacidade de investimento já usada na construção de importantes infraestruturasa necessárias ao desenvolvimento. O alargamento dos BRICS vai trazer muito novo investimento nomeadamente de grandes países produtores de petróle que entraram agora (Argentina, Irão, Arábia Saudita e Emiratos Árabes Unidos).

Em declarações ao Finantial Times neste mês de Agosto, Dilma Rousseff afirmara que "“O nosso foco tem que ser esse: um banco feito pelos países em desenvolvimento para eles próprios” e "planeia começar a emprestar nas moedas sul-africana e brasileira (rands e reais) para reduzir a dependência do dólar" e "“O nosso objetivo é alcançar cerca de 30% de tudo o que emprestamos em moeda local".

Dilma sublinhou "Além dos empréstimos em rand e real, estão a pensar fazer o mesmo em rúpia (moeda da Índia), sendo que já o fazem em renmimbi (moeda chinesa).

A expansão dos empréstimos em moeda local apoia um objectivo mais amplo acordado pelos países BRICS de encorajar a utilização de alternativas ao dólar nas transações comerciais e financeiras.

Dilma Rousseff disse que os empréstimos em moeda local vão permitir que os mutuários dos países membros evitem o risco cambial e as variações nas taxas de juros dos EUA.

Mais adiante daremos conta de outros aspectos da Cimeira  e forneceremos uma tradução dos 94 pontos da respectiva Declaração.







Bom fim de semana, por Jorge


"If anything at all, perfection is not when 

there is nothing to add, but when 
there is nothing left to take away."

"Na verdade, a perfeição não é quando 
não há nada a acrescentar, mas sim quand
não há mais nada a retirar.

Maria Tallchief 
(prima ballerina nativa americana da nação Osage, 1925-2013)

fotografia de Martha Swope 



quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Cimeira dos BRICS termina hoje com perspectivas promissoras



O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou que a República Argentina, a

República Árabe do Egito, a República Democrática Federal da Etiópia, a República Islâmica do Irão, o Reino da Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos tornar-se-ão membros de pleno direito do BRICS em 1 de Janeiro de 2024. 


Lula da Silva disse, a propósito, que "Agora o PIB dos BRICS aumentará para 37% do PIB global em termos de paridade de poder de compra, enquanto a população destes países representará 46% da população global".


No meio de várias restrições, o Fórum Empresarial do BRICS ocorreu à margem da Cimeira, com a participação de mais de 1500 pessoas, nomeadamente empresários dos países do BRICS e de outros países do mundo. 

O fórum teve como objetivo atrair investimentos, promovendo a colaboração no continente africano. e com outros estados do BRICS.


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Os países que têm bases miltares em África


 

Níger: revoltosos reagem e têm segunda vitória

 Ontem o coronel do Exército que integra a Junta Militar, do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), Amadou Abdramane, acusou o governo francês de ter libertado 16 terroristas que estavam detidos no Níger e no Mali. 

A França confirmou, assim, um comportamento de desestabilização do país por parte do seu governo.

Face a esta escalada de provocações, a Junta decretou alerta máximo para as forças armadas.

O CNSP teve uma segunda vitória, depois da tomada do poder e afastamento do anterior presidente, com grande apoio popular. Essa segunda vitória foi resistir às intimações francesa, apoiadas pela CEDEAO e ONU, para esta partilhar, num prazo já extinto, com terceiros uma solução "política", cozinhada para a crise. 

Denunciou ainda o sobrevoo do espaço aéreo por um avião militar do tipo A400 entre as 06h39 e as 11h15 (hora local), após retirar voluntariamente todo o contacto com o controlo aéreo.

De igual modo, o representante do CNSP instou a população civil a mobilizar-se e as autoridades a apresentar queixa junto de entidades internacionais.




sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Bom fim de semana!, por Jorge

 "Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen"

"Sobre aquilo de que não se consegue falar, 
é melhor calar"



Ludwig Wittgenstein 
filósofo austríaco, 1889-1951  
na última linha do seu
Tractatus Logico-Philosophicus (1921)

quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Depois do golpe militar no Níger a França ameaça intervir no país

 A agência France Press deu conta no dia de ontem que o Burkina Faso e o Mali considerarão qualquer intervenção militar no Níger como uma declaração de guerra contra eles.

"Qualquer intervenção militar contra o Níger seria considerada uma declaração de guerra contra Burkina Faso e Mali", diz o comunicado.


Na noite de 26 de julho, os rebeldes anunciaram na televisão nacional a destituição do presidente Mohamed Bazoum, o encerramento das fronteiras da república, o toque de recolher, a suspensão da constituição e a proibição da atividade dos partidos políticos.
Seguiu-se dois dias depois a declaração de que o general Abdurahmane Tchiani se tornara  o novo chefe  de estado. Durante o golpe, ele liderou a guarda presidencial, cujas unidades detiveram Bazoum e continuam a mantê-lo sob custódia.

Na segunda-feira, a BBC informou que as novas autoridades do Níger suspenderam as exportações de urânio e ouro para a França.

O Níger é o sétimo maior produtor mundial de urânio, respondendo por 5% da produção global. De acordo com a mídia francesa, o Níger responde por 15% - 17% do urânio usado para gerar eletricidade na França.

A França tem vindo a perder o seu apoio entre os países  do Sahel e outras antigas colónias vítimas de uma exploração pós-colonial por parte dele.

domingo, 30 de julho de 2023

O papel da transição ecológica na crise energética e industrial europeia, por Demétrio Alves, publicado em abrilabril

O sistema político e económico vigente na UE, por muito que se diga e queira verde, rege-se, de facto, por um forte ideário em que os lucros, as rendas e as mais-valias oportunistas são a trindade dominante.


Créditos/ Agência iNFRA

Segundo o Electricity Market Report Update Outlook (2023/2024), publicado há dias pela IEA (Agência Internacional da Energia), existem claros sinais de intensificação da crise energética europeia, com um impacto muito negativo no setor das indústrias electro-intensivas.

O consumo de eletricidade na UE diminuiu 3,2% em 2022 (Figura 1), ou seja, a segunda maior queda desde a crise financeira global de 2009, apenas ultrapassada pela descida de 2020 aquando da Covid-19. É notório que o consumo de eletricidade na UE tem estado em baixa tendencial desde cerca de 2006, e, agora, no primeiro semestre de 2023, caiu 6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Para 2023 prevê-se uma queda global da procura de 3% na procura de eletricidade.

É paradoxal que tal aconteça num espaço geográfico, político e económico, que faz da sua transição energética uma das suas políticas fundamentais, e onde tal transição é subordinada à ideia de descarbonização acelerada, por sua vez alicerçada numa idealizada satisfação das necessidades energéticas através de eletricidade totalmente produzida na base de fontes renováveis.

Como se explica tal situação?

(continuar a lêr aqui)



Boa semana!, por Jorge

 Making mistakes is a sign of intelligence 

– and Einstein’s errors prove it."

"Um sinal de inteligência é errar 

e os erros de Einstein são prova disso."



Carlo Rovelli 
físico e cosmologista italiano, n.1956, 
em artigo de 7/8/2020 em inews.co.uk

A cimeira Rússia-África - 1

A cimeira Rússia-África, que decorreu em 27 e 28 em S. Petersburgo, esteve condicionada por actores de fortes interesses opostos, e em que até as carências alimentares das populações dos países africanos foram usadas por diferentes deles para as respectivas agendas



Vladimir Putin anunciou, na sessão de abertura da cimeira Rússia-África, em São Petersburgo, que Moscovo poderá enviar gratuitamente entre 25 mil e 50 mil toneladas de cereais a seis países africanos nos próximos quatro meses: Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana (RCA) e Eritreia.

Depois da cimeira terminada, logo o secretário-geral da ONU, António Guterres, criticou a disponibilidade da Rússia para oferecer esses cereais a seis países africanos, alertando que esta acção não iria contribuir para baixar os preços dos alimentos no mundo.

Mas esquecendo-se de referir que o seu magistério de influência não conseguira assegurar à Rússia os objectivos que esta fizera incorporar no texto do acordo, nomeadamente a queda das sanções para permitira que ela exportasse, incluindo cereais, fertilizantes (de uso obrigatório para potenciar o uso dos cereais). Nem para ser permitido que o sistema SWIFT voltasse a ser utilizado pelo banco agrícola russo. Contra toda a objectividade, Guterres insistiu:

"Não é com um punhado de donativos que vamos corrigir o impacto dramático [da subida dos preços dos cereais] que afeta toda a gente em todo o lado", sublinhou Guterres, lamentando a saída da Rússia dos chamados acordos do mar Negro, que teria paralisado as exportações ucranianas de cereais. Esses donativos serão, segundo a Federação Russa, para acorrer a necessidades básicas e imediatas dos seis países referidos, não se destinarão a influenciar os mercados europeus, caro Eng.º Guterres. Para isso contribuíram as exportações ucranianas para alguns países europeus. Não é verdade que os agricultores dos países europeus se queixaram de que essas importações tinham baixado muito os preços que eles praticavam.

 

"A remoção de milhões e milhões de dólares em cereais do mercado leva a preços mais altos do que ocorreria com o acesso normal dos cereais ucranianos ao mercado internacional. Esse impacto será pago pelo mundo inteiro e, especificamente, pelos países em desenvolvimento e pelas populações mais pobres e vulneráveis". Então os cereais russos, impedidos de serem exportados, não agiriam no sentido de remover essa alta de preços?

O apelo do Papa à Rússia para que seja restabelecido o Acordo dos Cereais, suspenso por ela no dia 17 deste mês, terá certamente outra influência de um magistério diferente do que tem tido o Eng.º Guterres.

 

Voltaremos, em breve, aos resultados desta Cimeira Rússia-África, que não se esgotou nos aspectos mais mediatizados pela mídia ocidental.