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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O que só Edgar Silva tem, publicado ontem por António Santos

 
A grande notícia de ontem foi que Edgar Silva é o candidato à Presidência da República com o maior orçamento de campanha. Os jornalistas, como ainda não podem adjectivar a deixa com «escandaloso!», fazem-no com a melodia da voz, com a entoação e com as pausas no discurso, levado ao histriónico da náusea e do rancor.

E, apesar da dimensão da campanha, o «candidato apoiado pelo PCP» que, ao contrário de Marisa Matias, Marcelo Rebelo de Sousa ou Maria de Belém, é o único apresentado pela sigla partidária, permanece invisível aos holofotes mediáticos. Porque será? A resposta é que a candidatura de Edgar Silva tem algo que mais nenhuma tem. Algo que assusta muita gente.
1 - Uma vida de solidariedade verdadeira


Ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa que, já não podendo passar férias na bonita mansão de Ricardo Salgado, continua a cultivar com este uma bonita amizade, Edgar Silva é um homem que conheceu a pobreza na pele e o único candidato que se pode orgulhar de um percurso de vida ao lado dos mais fragilizados da sociedade. Enquanto a juventude de Marcelo Rebelo de Sousa, filho de ministro fascista e afilhado de ditador, foi passada no mais obsceno luxo, a escrever cartinhas a Salazar e ao outro Marcelo, Edgar Silva dedicou os seus melhores anos a salvar da mendicidade e da pedofilia as crianças da Madeira.
Já a vida política de ambos não é menos reveladora. Enquanto liderou o PSD, Marcelo distinguiu-se por duas coisas: a paixão por Cavaco, que ajudou a levar ao poder, e a defesa fanática dos cortes salariais, das isenções fiscais para banqueiros e grandes empresas e do roubo de direitos dos trabalhadores. Para o cargo de chefe do Estado, precisamos de alguém cujo percurso de vida se paute pelos mais elevados critérios de honradez e rectidão. Edgar Silva provou com a biografia que é um homem justo.
2 - Um compromisso com a Constituição
 
Edgar Silva é o único candidato a colocar a Constituição como eixo central do exercício dos poderes presidenciais. Independentemente de concordarmos ou não com o seu projecto, a verdade é que mais nenhum candidato ousa identificar-se na íntegra com o texto que o Presidente jura cumprir integralmente.

Só Edgar Silva tem a coragem de lembrar que a Constituição prevê, por exemplo, a dissolução dos blocos militares e a gratuitidade da saúde e da educação. Do mesmo modo, Edgar Silva é, à data desta publicação, o único candidato que assume frontalmente que as 40 horas na função pública atropelam a lei suprema da República.
3 - Uma candidatura coerente


Contra Edgar Silva podem-se tecer as corriqueiras acusações a que todos os comunistas estão habituados, mas ninguém disputa a coerência de Edgar Silva, exemplificada pela frontalidade com que criticou a patranha do BANIF. Como em todos os actos eleitorais, a coerência é um bem caro.

Já a montante, pulula a incoerência e a contradição: Maria de Belém, que não vê qualquer conflito de interesses entre ser consultora do BES Saúde e presidente da Comissão Parlamentar de Saúde; Marcelo Rebelo de Sousa, que não tem pejo em presidir simultaneamente a uma fundação monárquica e à República; Sampaio da Nóvoa, que, assumindo causas justas, mantém uma ambiguidade dilacerante sobre tudo o que venha de Bruxelas, refugiando-se na fraseologia para escapar aos ditames da União Europeia.

4 - Uma ligação profunda ao mundo do trabalho

Percorrendo as fábricas, as empresas e os locais de trabalho de Norte a Sul do país, Edgar Silva vem somando o apoio de milhares de trabalhadores e líderes sindicais. A determinação de Edgar Silva em querer conhecer a vida dos funcionários públicos, dos operadores de call-center, dos operários, dos imigrantes, dos enfermeiros, dos trabalhadores das limpezas, dos investigadores, dos lojistas e de todos os trabalhadores demonstra bem o que é e ao que vem esta candidatura.

Inversamente, Marisa Matias prefere a companhia de: Rita Ferro Rodrigues, fervorosa apoiante da campanha da genocida e corrupta Hillary Clinton e empregadora de trabalho escravo; Fernanda Câncio, paladina anti-comunista que defende que os jornalistas do Avante! e do Esquerda.net deviam perder a carteira profissional, que assume sentir «asco» do PCP a que chama «partido zombie» sem lugar na sociedade portuguesa e que acha que os cartazes do PNR não fazem mal a ninguém (embora os murais da JCP sejam um caso de polícia)... entre muitas outras estrelas e famosos da televisão.
5 - Um projecto de esquerda, por Abril
Esta é uma campanha de intenções dissimuladas: Marcelo Rebelo de Sousa tenta fingir que não é o candidato do PSD/CDS-PP, da austeridade e de Cavaco; Sampaio da Nóvoa repete, incansável, que a sua candidatura não é de esquerda nem de direita; Maria de Belém finge não conhecer José Seguro.

A candidatura de Edgar Silva, sem olhar a votos, não esconde aquilo que é: um projecto de esquerda, profundamente ligado aos ideais de Abril. Sistematicamente acusado de «ter um programa de governo», o que Edgar Silva tem é uma visão para um país mais justo. Patente em nenhum lado como na sua Declaração, há um conjunto de valores, posições e princípios que não se escondem.
Que não se vendem.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O governo venezuelano responde ontem, na Cimeira do Mercosul, à ingerência do presidente argentino

Realizou-se ontem a XLIX Cimeira do Mercosul, em  Assunção no Paraguai, que além da decisão de conceder ao Uruguai a presidência seguinte deste organismo , evidenciou  claros sintomas de distanciamento entre alguns governos do Mercosul.Na sessão plenária da Cimeira o recém-eleito presidente argentino Mauricio Macri pediu a libertação dos presos políticos na Venezuela e uma democracia participativa e inclusiva. De imediato a  chefe do governo venezuelana  Delcy Rodríguez, reagiu com uma resposta contundente, afirmando que os poderes públicos  do seu país, devem ser respeitados pela comunidade internacional, e que Macri ao defender Leopoldo López, está a defender as manifestações violentas onde os direitos cívicos da população do seu país foram atingidos,  sem contar as mortes ocorridas no decurso dos referidos protestos.
Veja essa resposta de Delcy Rodriguez nesta reportagem da zur.org.uy
 
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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Vendo, ouvindo e lendo, não queremos ignorar


 
Esta manhã empenhado em tarefas domésticas  ouvi na Antena Um (a minha rádio para o bem e para o mal) o Dr. Rui Ramos, historiador e professor universitário, que numa reflexão de passagem de ano disse mais ou menos que “o presente foi determinado pelo passado e o futuro só pode ser projectado a partir do presente”. A reflexão é pobre para comentador de serviço que deve ser remunerado para o efeito. Desta vez não lhe saiu arremedo reacionário como noutras alturas. Ficou tão só a banalidade.
Melhor me dispôs um escrito de outro historiador, Diogo Ramada Curto, hoje, no Público, que de forma muito fundamentada lhe permitiu afirmar que “As declarações de Lula da Silva sobre o atraso no ensino brasileiro e a ligação deste com o legado colonial português fizeram tocar tambores nacionalistas deste lado do Atlântico, mas Lula não andou longe da razão histórica” e ainda que “Só acabando com a manipulação dos factos do passado se poderão encontrar bases mais seguras para o estabelecimento de relações entre portugueses e brasileiros”. Recomendo vivamente.
Na RTP a repetição de notícias de um dia para o outro ultrapassa os limites. Dizia o pivot do telejornal das 13 h de hoje que "Foi encerrado nas últimas horas o maior negócio entre um clube de futebol e uma operadora de telecomunicações (F.C. Porto e Meo)".
Fi bem, no Expresso digital, Nicolau Santos ao afirmar que “não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da fatura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes) ”. Importaria ter desenvolvido a forma da decisão do governo, com a qual não concordo, ser outra e que interesses iria beliscar.
 
O papelda China na economia mundial foi desenvolvida no project-syndicate.org por dois economistas norte-americanos, e traduzida para a edição de hoje do Negócios. A China, como referem vários outros economistas, tem cumprido bem ou razoavelmente com os quatro "arquétipos" da inovação: 1. foco no consumidor; 2.orientação para a eficiência;3. com base na engenharia; 4.com base na ciência.
E Martin Neil Baily e Jonathan Woetzel afirmam que “O abrandamento económico da China dominou as notícias económicas no mundo este ano – e por um bom motivo. Além de ser a segunda maior economia do mundo, a China é o maior produtor de matérias-primas; por isso, qualquer sinal de enfraquecimento aí são más notícias para a economia mundial. Mas, enquanto os receios em torno do crescimento merecem atenção, devem ser vistos no contexto da trajectória económica de longo prazo da China, em especial na sua emergência como centro mundial de inovação”.

domingo, 27 de dezembro de 2015

A arte da guerra ou como a NORAD se apoderou do Pai Natal

 
Todos os anos, se diz às crianças que o Pai Natal dá a volta ao mundo num trenó voador, puxado por renas. Mas quem cuida de sua segurança? É o Norad (Comando da Defesa Aeroespacial Norte-Americano).
No dia 24 de Dezembro, na sua sede de Peterson (Colorado), é activado um  verdadeiro centro operacional, o Centro de Operações de NORAD do Pai Natal  que, com uma equipe de 1.200 especialistas e voluntários, fez uma simulação: seguir a trajectória  Pai Natal de minuto em minuto, reportando-o ao Google Earth; e responder a todos os que pedem informações (
http://www.norad.mil/). Assim, desde que o Pai Natal descola do Pólo Norte -explica o Norad- ele está localizado pelos radars do comando aeroespacial, seguindo seu caminho com satélites que esztão em órbita geoestacionária, equipados com sensores infravermelhos e camaras digitais sofisticadas.
Quando o trenó do Pai Natal se aproxima da América do Norte, descolam  caças-bombardeiros canadianos e norte-americanos (CF-18, F-15, F-16, F-22), neste caso, não para o derrubar mas para o escoltar. Encena-se uma grande fábula, utilizando um  centro operacional real e, referenciando-se, na simulação, aos satélites militares e aviões reais usados para a guerra. Uma grande operação de imagem, que começou em 1955, e que se transformou depois da Internet numa campanha de propaganda à escala planetária.
"Nas vésperas de Natal, segundo Charles Jacoby, as crianças em todo o mundo confiam na NORAD para que que o Pai Natal possa  realizar o seu trabalho em segurança...." A mensagem publicitária é clara: a missão da Norad não é a guerra, mas a segurança global, com a garantia de um testemunho excepcional: o Pai Natal. Que não se estreou em deveres deste tipo. Nos EUA, o  mítico personagem, que emigrou da Europa, em 1863 foi usado na guerra civil pelos Yankees para trazer presentes para os soldados na frente, vestido com a bandeira estrelada dos EUA.
Depois, na década de trinta, foi contratado pela Coca-Cola, a multinacional que o tornou famoso em todo o mundo com a sua imagem atual. No mapa do Google Earth do Paoi Natl da Norad, ele paira sobre o mundo, largando  pacotes de presentes com uma bonita fita vermelha . Mesmo no Afeganistão, Paquistão, Iraque, Líbia, para o deleite das crianças, que até agora só viram os aviões norte-americanos a largar bombas. Até  no Irão e na Síria, onde nos pacotes segue o presente de uma nova guerra em preparação (NT-O texto é de 2011)
No mapa não apareciam pacotes contra os políticos e os militares que fazem as guerras. No entanto, eles aguardam ansiosamente porque, como dizem os psicólogos, em cada um de nós se  esconde uma criança. Para estas crianças crescidas e mal-educadas, o Pai Natal trará presentes caros, pagos com dinheiro público. Como o F-35 Lightning, o bombardeiro caçador caça de quinta geração que irá levantar voo para escoltar o trenó do Pai Natal 25 de Dezembro, mostrando assim a todo o mundo que "garantiu a segurança das futuras gerações", e para bombardear, nos dias seguintes, os países onde o Pai Natal do NORAD deixou os seus pacotes de presentes.
Refletindo sobre tudo isto, alguns concluem que não podemos confiar no Pai Natal e é melhor escolher o Presépio. Mas já não vão encontrar a Sagrada Família, detida por um posto de controle israelita.
 
Terça-feira, 27 de Dezembro de 2011, edição do il manifesto
(tradução de António Abreu)

sábado, 26 de dezembro de 2015

Let it be, por Joan Baez, em 1973


O Natal em Damasco na procura da paz e da reconstrução da Síria

 
 
Vários foram os correspondentes estrangeiros que puderam testemunhar as festividades de Natal em Damasco
A Síria já sofreu mais um ano de guerra civil devastadora. No entanto, milhares de civis em Damasco foram tentando viver uma vida tão normal quanto possível, celebrar o Natal e descansar torneando o caos.
As coisas não têm sido fáceis para os cristãos que vivem na Síria nos últimos cinco anos, desde o início da guerra. Perseguidos pelo Daesh ou Estado Islâmico, como por outros grupos terroristas, os cristãos em Damasco conseguiram afastar essas nuvens, durante pelo menos um dia.
Dezenas de milhares de pessoas participaram nas celebrações e numa delas encontrou-se uma sensação geral de esperança de que as coisas vão dar uma volta para melhor no futuro próximo.
Havia um espírito ecuménico de celebração que se fosse promovida por muçulmanos se adivinhava poder ter corrido em termos semelhantes.
O exército e a polícia presentes ajudavam à sensação de conforto.
Centenas de milhares de cristãos procuraram refúgio em Damasco devido a perseguição religiosa noutras partes do país e os moradores acolheram os seus compatriotas que foram forçados a sair de suas casas em busca de segurança.
A cena era de alegria e empatia. Bandas de música tocavam, enquanto as crianças estavam vestidas como anjos e eram muitos os chapéus vermelhos de Natal. Alguns muçulmanos também quiseram beneficiar deste espírito de Natal. As pessoas não se importavam se eram sunitas, muçulmanos ou cristãos. Prevalecia, sim, a vontade de celebrar e de recuperar a Síria tal como era e de todos poderem ser o que querem ser.
Os sírios recordam tempos mais felizes antes da devastadora guerra civil, mas ao celebrar festas como o Natal, tentam impedir que o derramamento de sangue e as atrocidades lhes tirem o melhor de si mesmos e provar que pessoas de todas as fés podem ficar juntas e lutar por um Síria unida, com paz e serenidade.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Frase de fim-de-semana, por Jorge

One of the saddest lessons of history is that,
if we’ve been bamboozled long enough,
we tend to reject any evidence of the bamboozle,
we’re no longer interested in finding out the truth."

"Uma das lições mais tristes da história é que,
se fomos trapaceados durante suficiente tempo,
tendemos a rejeitar as provas da trapaça
e já não nos interessa encontrar a verdade"

Carl Sagan
astrofísico
e divulgador científico americano,
1934-1996
em Um Mundo Infestado de Demónios (1995)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Porque hoje é Natal



Se hoje é Natal,
porque o não é para todos?

Porque esses não tiveram sucesso,
nem abriram portas de oportunidade,
porque não queriam trabalhar,
nem criaram um negócio para exportação?
Não tiveram ambição, coitados.

Não trabalharam, é certo sem direitos,
para que quando ambos foram despedidos,
e se viraram contra nós, vossos patrões,
que nunca vos desprotegeram,
isso ter constituído para nós grande injustiça?

Sois ingratos, coitados

Porque quiseram viver de subsídios?
Viciaram-se nisso, coitados.
E não preferiram minar a sustentabilidade
da segurança social
a que não tinham direito
por não terem descontado,
e um sistema de saúde
que também lhes não era devido?

Foi assim, foi, coitados.

Porque não quiseram ser empreendedores,
candidatando-se a deputados
e fazer aí a ascensão social,
e em gabinetes, em lugares de governo,
que lhes viabilizaria um cargo de gestor.
e reformas de sucesso?

Sabe-se lá, coitados.

Porque não quiseram
fazer uso da liberdade de ensino
para ter em os filhos em colégios religiosos,
com garantia de bons diplomas
em universidades maçónicas?

Não quiseram não, os coitados

Mas não fiquem assim,
aceitem a nossa solidariedade,
Num pão e num copo de vinho
que vos realçam as virtudes
e vos aproximam do Divino.

Não aceitam?
Paciência, coitados.

Vamos pensar em vós
na Consoada de logo nas Seicheles
para estarmos longe do vosso olhar,
que recusa a súplica,
comeremos lagosta, suada de vos fugir,
não deixaremos de pensar em vós, ingratos,
para vos desejar paz e amor.

Assim será, coitados.

António Abreu

Bom Natal para todos e um Ano Novo a chocalhar para animar a malta!


quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Indonesia: passam 50 anos sobre um dos maiores massacres do século XX


Em Maio de 1965, o secretário-geral do PCI, Aidit, num aniversário do PCI, perante mais de 100 mil pessoas, ao lado do presidente Sukarno
Só agora, a propósito deste aniversário, começa a haver espaço para discutir na Indonésia o pesadelo de então mas tiveram que passar cinquenta anos sobre o banho de sangue realizado pelo exército indonésio, conduzido pelo nosso bem conhecido geral Suharto visando o extermínio da quase totalidade dos membros do Partido Comunista Indonésio (PKI), partido com resultados eleitorais muito elevados e com um número e militantes na ordem dos milhões, aliado do Presidente Sukarno.
A pretexto de um suposto golpe contra as chefias de um pretenso movimento “G30S”, estima-se que entre 500 mil a um milhão, ou mesmo mais pessoas tenham sido assassinadas. 
A maior parte das fotos foi confiscada pelos serviços secretos indonésios e norte-americanos
http://monthlyreview.org/2015/12/01/no-reconciliation-without-truth/

Outras 750 mil a um milhão e meio foram presas, muitas das quais torturadas. Milhares morreram na prisão. Apenas cerca de 800 pessoas foram levadas perante tribunais militares que, sumariamente, os condenou à morte...e os tratou de executar. Os Estados Unidos, e em menor parte a Austrália, estiveram envolvidos em quase todo o processo deste extermínio: compilando listas de pessoas a serem mortas; entregando equipamentos militares, especificamente destinados aos autores do derramamento de sangue; oferecendo ajuda organizativa e logística; enviando agentes secretos para ajudar na "limpeza"; e fornecendo apoio político aos assassinos, particularmente da comunicação social norte-americana.
Suharto e os golpistas responsáveis não passaram pelas prisões e Suharto , depois destes massacres e dos de Timor-Leste,  morreu naturalmente na cama décadas depois dos acontecimentos.
Durante décadas, os EUA apoiaram Suharto e opuseram-se à sua condenação internacional.
A Monthly Review publica este mês uma entrevista com um dos presos sobreviventes cuja leitura sugerimos
Em 1975, o presidente Gerald Ford e o secretário de estado Henry Kissinger, recebidos por Suharto, aterram em Jacarta para estarem presentes no 10º aniversário do massacre
Foi um tribunal de sobreviventes agora, 50 anos depois, em Haia, que classificou os crimes contra a Humanidade registados e sentenciou que a sua autoria era do estado indonésio
Sobreviventes no julgamento simbólico de Haia em Novembro deste ano

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Algumas questões sobre a venda do Banif ao Santander


Uma vez mais um banco do “nosso” sistema financeiro faz perder aos contribuintes mais de 2 mil milhões de euros. Isto para já.
O governo assumiu a decisão de venda do Banif ao Santander, garantindo, nas palavras do Primeiro-Ministro, os interesses dos depositantes, dos trabalhadores do banco e a defesa do sistema financeiro.
As condicionantes da UE inviabilizaram pelo menos mais uma solução: a integração do BANIF na Caixa Geral de Depósitos

O Banco de Portugal, referiu que a operação envolve um apoio público estimado em 2.255 milhões de euros que visam cobrir contingências futuras, dos quais 489 milhões de euros do Fundo de Resolução e 1.766 milhões directamente do Estado afirmando que esta solução "é a que melhor protege a estabilidade do sistema financeiro português".
Ninguém, até ao momento, avançou com outras soluções menos gravosas para o que deveria ser uma melhor aplicação de boa parte das receitas dos contribuintes, tal como está consagrado no Orçamento de Estado previsto para 2016. E isso irá gerar, consequentemente, a aprovação de um orçamento rectificativo.

Como tem sido divulgado, a responsabilidade no atraso de quase um ano na resolução desta questão – então talvez em condições mais favoráveis para o estado. E isso justifica plenamente a constituição de uma comissão de inquérito sobre a condução do seu processo até ao seu desfecho.

E, mesmo que isso possa parecer uma antecipação de conclusões, o PCP considera desde já que “É possível afirmar que o governo PSD/CDS colocou 1100 milhões de euros no Banif, dos quais apenas 275 milhões foram recuperados e sem garantir o mínimo acompanhamento possível. Ou seja, PSD e CDS são directamente responsáveis pela perda de 825 milhões de euros”.
Com os casos do BPN, BCP, BES e agora com o BANIF, o erário público já foi delapidado em muitos milhares de milhões de euros pelas administrações sucessivas dos bancos privados

No BANIF sucederam-se ao longo de anos jobs for the boys particularmente de ex-governantes, ex-dirigentes e outras figuras do PSD. A responsabilidade “tutelar” de Cavaco Silva tem que ter um julgamento político. Mas também lá deixaram a sua marca conhecidas “personalidades” do PS que, não por acaso, foram até agora os mais fervorosos defensores do bloco central de interesses, assumidos liberais, a quem não agradou a solução de governo encontrada depois das eleições de 4 de Dezembro.

Foram negócios ruinosos, empréstimos sem garantias, subordinação a interesses particulares indefensáveis que se sucederam. Tal como no caso do BES, importa que a Assembleia da República esclareça estas questões até ao fim. As consequências políticas e judiciais terão que ser extraídas.
A criação de condições internas no Banco de Portugal para ser viável a vontade governativa de mais eficaz regulação é importante. Mas não basta. O Estado deverá assumir o controlo do sistema bancário hoje existente. É uma exigência política e eticamente inatacável que não fere, fora desta necessidade absoluta,  a liberdade comercial e de serviços.

domingo, 20 de dezembro de 2015

De uma semana para a outra


Domingos Abrantes
- O PCP decidiu propor, e foi eleito, para o Conselho de Estado um dirigente histórico, Domingos Abrantes. Decidiu ainda dar prioridade na sua intervenção política às acções da campanha da candidatura de Edgar Silva à Presidência da República e decidiu marcar o XX Congresso do PCP para 2, 3 e 4 de Dezembro de 2016.

- O relatório do programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), divulgado segunda-feira, 14, indica que a riqueza e o rendimento globais atingiram em 2014 «o ponto mais alto de sempre». Mas que na distribuição a desigualdade nunca foi tão grande.

No texto, regista-se que «cerca de 80 por cento da população detém [somente] seis por cento da riqueza mundial». Em 2016, estima também o documento do PNUD, um por cento da população concentrará mais de metade dessa riqueza. O fosso é ainda evidenciado com outra comparação: no ano passado, aquela elite dos mais ricos entre os ricos tinha uma riqueza média de 2,7 milhões de dólares por adulto, contrastando com os mais de 830 milhões de seres humanos que sobreviviam com menos de dois dólares por dia.

- O ex-director-geral dos impostos afirmou que as mil famílias mais ricas, em Portugal, não estão a pagar os impostos que deviam, o que corresponde a rendimentos acima de cinco milhões de euros e 25 milhões de euros em património. Ao mesmo tempo referiu que Passos Coelho desmantelou um grupo de inspectores tributários que acompanhava essa situação;

- O regime da Ucrânia suscitou em tribunal a ilegalização do Partido Comunista Ucraniano, depois do seu dirigente Pyotr Simonenko ter acusado as autoridades de matar civis pacíficos no sudeste do país e de estar a mentir sobre a real situação do país e de ter pedido para acabar com a chamada operação antiterrorista no Donbass que de facto se transformara numa operação conra o povo da região. Os dirigentes da Ucrânia já tinham impedido Simonenko de ser candidato nas eleições presidenciais de 2014

- Nesta quinta-feira as operárias da Triunfo Internacional, Sociedade de Têxteis e Confecções, empresa da multinacional alemã Triumph International, que desde 1961 produz em Portugal vestuário interior, realizaram mais uma jornada de luta contra a deslocalização anunciada pelos patrões no dia 11 de Novembro. A deslocalização põe em risco o emprego de 530 pessoas, Antes, na terça-feira os trabalhadores da OGMA, Indústria Aeronáutica de Portugal, concentraram-se em Alverca, para reclamar actualização da tabela salarial, que é negada há mais de três anos, e também para exigir que seja alterado o regime arbitrário de marcação de férias e a organização dos horários de trabalho. Para o Sindicato dos Trabalhadores Civis das Forças Armadas, Estabelecimentos Fabris e Empresas de Defesa, da CGTP-IN é também necessário acabar com «o assédio laboral que grassa dentro da empresa, com perseguições e discriminações constantes».

Ainda esta semana, vinte trabalhadores da Impresa, de Balsemão, que detêm a SIC e o Expresso. A empresa de Balsemão, que a direita elegeu para o Conselho do Estado, foram chamados para negociar a rescisão dos contratos na SIC. O Expresso, nos últimos anos já teve três vagas de despedimentos. Noutros dois jornais, o sol e o i, sofrerão também despedimentos. O grupo angolano Newshold sai da estrutura acionista dos jornais e um novo projeto surgirá com o despedimento de 2/3 dos trabalhadores.

- Angela Merkl apoia a construção do pipeline Nord Stream-2, projecto da iniciativa privada em que a Gazprom participa com 50% do capital no projecto que inclui outras empresas privadas da Alemanha, Holanda, Áustria e França. Alguns governos da EU queixaram-se disso. Merkl acha que deve ser feita a opção política dos pipelines passarem na Ucrânia. O Primeiro-Ministro italiano é contra a construção por a Gazprom ter cancelado há meses um projecto idêntico para o Sul da Europa (é de lembrar que isto aconteceu depois de provocações e embargos contra a Rússia por parte da UE);

- O presidente da Duma da Federação Russa, Sergei Narishkin, manifestou, perante uma reunião com juristas sérvios, preocupações com a expansão contínua da NATO. E que o melhor para a segurança do continente europeu no seu conjunto, devia ser a dissolução da NATO. Saindo, em primeiro lugar dela os EUA para que o conjunto da organização ficasse menos tensa para contribuir para a segurança no continente europeu. O passo mais recente dos EUA foi a imposição da Adesão à NATO do Montenegro, aliada da Sérvia, onde este a atitude provocou grandes revoltas populares, porque não se esquecem os bombardeamentos que o país sofreu por parte da NATO quando à força dissolveu a Jugoslávia;

- Depois da China ter voltado a pedir aos EUA que ratificassem o acordado anteriormente (2010) relativamente à reforma do FMI, nomeadamente no que respeita às cotas de cada país de maneira a garantir a votação correspondente  dos países em vias de desenvolvimento e ao sistema de governo da organização que permitiria que dois destes países participassem no Conselho Executivo do FMI, o Congresso dos EUA concordou com a proposta anterior, avançando com valores que os membros do FMI terão de confirmar.

- No decurso da Conferência Mundial de Internet (CMI), a decorrer em Pequim, a China manifestou a vontade de que representantes da Internet de outros países passassem a integrar uma comissão de assessores para desenvolver a Internet na China;

- Contrariando a propaganda da oposição, a Venezuela está entre as nações com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A confirmação surgiu paralelamente à aprovação do Orçamento do Estado para 2016, o qual destina mais de 40 por cento dos fundos para programas sociais e serviços públicos.

A avaliação elaborada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que considera variáveis sociais e económicas, atribui à Venezuela o lugar 71.º no que ao IDH diz respeito;

- A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública considerou positiva a intenção de pôr termo ao regime de «requalificação», reintegrando os trabalhadores empurrados para essa situação pelo anterior governo, intenção manifestada na terça-feira pelo Ministro do Trabalho

- As manifestações de apoio a Dilma na quinta-feira, em todo o país contrastaram com o fiasco das manifestações de domingo dos que querem o impeachement da presidenta. No mesmo sentido foi ontem uma decisão extremamente importante do Supremo Tribunal que se pronunciou pela ilegalidade do pedido de impeachement por parte de Eduardo Cunha, presidente do Congresso. A apreciação do Supremo foi suscitada pelo Partido Comunista do Brasil, que integra o governo de Dilma. Por outro lado, calcula-se que o escândalo de corrupção, lavagem de dinheiro e sobrefaturação na petrolífera estatal brasileira, Petrobas, envolva meia centena de deputados e senadores do Brasil, entre os quais Eduardo Cunha, cuja residência foi, anteontem, alvo de buscas por parte da Justiça Federal.

-  José Sócrates continua a ser beneficiado por largo tempo de antena em termos contrários à ética e igualdade dos direitos dos cidadãos.

Horas depois foi bombardeado um bairro residencial dos subúrbios de Damasco para matar um libanês, dirigente do Hezbolah, que tem cooperado com a Síria no combate contra o Desh. A Síria atribui o bombardeamento a Israel.


Assad e Asma visitaram ontem o ensaio de um coro de uma igreja cristâ de Damasco


Uma mensagem do Papa Francisco no Natal

 
 
A notícia chega-nos pela France Press (AFP).
 
Orar no Natal é o pedido do papa aos cristãos
No momento em que homens se matam por conta da fé ou do dinheiro produzido pela fé caberia ao Cristão "comemorar" a festa natalina? Para o mais popular papa da história recente do Catolicismo a resposta é "não!" Para ele, as festas de Natal são uma farsa na medida em que o cristão se preocupa com presentes, cartões, comida farta e presépios enquanto ignora a dor de milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente das vítimas da intolerância. Francisco diz que os Cristãos deveriam orar e manter discrição nas festas natalinas. 
O Papa afirmou, nesta última quinta-feira, numa homilia no Vaticano, que as festas de Natal se tornam vazias e soam a falso perante um mundo que escolheu "a guerra e o ódio", noticia a AFP.

"Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios. mas é uma farsa. O mundo continua a fazer as guerras. Não escolheu o caminho da paz", lamentou o Francisco, na homília da missa matinal.
"Hoje há guerras em toda a parte e ódio. (...) E o que resta? Ruínas, milhares de crianças sem educação, tantos mortos inocentes, tantos. E tanto dinheiro nos bolsos dos traficantes de armas", denunciou o Papa, após o pior ataque terrorista na história francesa, a explosão de um avião russo, um duplo atentado suicida no Líbano e uma série de outros ataques mortais. 
O Sumo Pontífice defendeu que a guerra é a escolha de quem prefere as "riquezas" ao ser humano. 
"Devemos pedir a graça de chorar por este mundo, que não reconhece o caminho para a paz. Para chorar por aqueles que vivem para a guerra e que têm o cinismo de o negar", acrescentou o Papa, dizendo que "Deus chora, Jesus chor
a".
 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Um ser humano nunca está esgotado"

Luandino Vieira

escritor e patriota angolano,
preso durante 10 anos nas prisões
de Luanda e do Tarrafal,
que rejeitou o prémio Camões em 2006,
 n.1935

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Véspera de Natal, de Carl Larsson, 1904


Cuidadinho com o que dizem!


Desde que a contagem descendente começou, Cavaco Silva não se conforma em estar calado.
E fala como presidente honorário da coligação que perdeu as eleições e que ainda vive no ressabiamento do resultado
Diz que se deve ter cuidado com o que se diz a propósito do Banif para não se criarem inseguranças que afectem o sistema bancário, mas no mesmo discurso inventa um suposto risco de falta de poio ao sector exportador que poderia afastar o investimento e os empréstimos externos…Em tempos (lembram-se?) foi tão cauteloso quanto ao BES quando deu garantias aos depositantes? Para ter cuidado, não devia ter dito outra coisa? Estes cuidados estará S. Exa a recomendá-los também a Passos Coelho por ter ido meter medo a Bruxelas quanto aos entendimentos à esquerda que estiveram na base do actual governo?
Defende que o apoio à exportação seja feito às empresas com capacidade de gerar mais-valias e alto valor acrescentado com bom nível de inovação. E às outras exportadoras não? E as tais boas, com que receitas comparticipam na redução da dívida, depois da importação de componentes necessárias à sua actividade?
Diz Cavaco que a poupança interna, escassa, já não gera capacidade de investimento e que se tem de recorrer ao crédito e à exportação. Então não acha que a melhoria das condições de vida podem gerar alguma poupança e crescimento da produção para consumo e serviços e elevação do PIB para reduzir o denominador do déficite?
É inevitável que a economia desapareça para que a espiral da ditadura do déficite dos programas de resgates nos leve ao fundo?

Stiglitz: o capitalismo está a revelar-se um fracasso


Joseph Stiglitz, tal como outros laureados com o Nobel e outros prémios internacionais, com uma experiência que vai actualizando, tem percorrido várias capitais em todo o mundo, como aconteceu há semanas em Lisboa, desmultiplicando-se em conferências.
Na passada segunda-feira, em Montevideu, capital do Uruguai, declarou que "um sistema económico que não fornece o bem-estar de uma parte muito importante da sociedade é um sistema económico que fracassa".
Segundo revelou, a sua origem operária levou-o a ser marginalizado, e que conheceu o racismo e a pobreza, que em tudo contrastava com a idéia que lhe era transmitida de que uma mão invisível regulava os mercados de forma perfeita.
Depois centrou-se nos bancos de desenvolvimento multilaterais que poderiam redefinir o seu papel para contribuir para reformar os mercados financeiros e para actuarem a longo prazo e serem intermediárias entre os aforradores e as necessidades de investimento, dado que a globalização não permitiu essa intermediação, que o sector privado, os fundos de pensões e os fundos soberanos de investimento, apesar de terem milhões de milhões de dólares não o fazem. Segundo o Nobel da Economia, os bancos multilaterais têm uma visão mais holística e menos mecanicista para poderem desempenhar esse papel.